segunda-feira, dezembro 11, 2006

...quando está frio

Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável,
Porque para o meu ser adequado à existência das cousas
O natural é o agradável só por ser natural.


Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno —
Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
E encontra uma alegria no fato de aceitar —
No fato sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.


Que são para mim as doenças que tenho e o mal que me acontece
Senão o Inverno da minha pessoa e da minha vida?
O Inverno irregular, cujas leis de aparecimento desconheço,
Mas que existe para mim em virtude da mesma fatalidade sublime,
Da mesma inevitável exterioridade a mim,
Que o calor da terra no alto do Verão
E o frio da terra no cimo do Inverno.

Aceito por personalidade.
Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,
Mas nunca ao erro de querer compreender demais,
Nunca ao erro de querer compreender só corri a inteligência,
Nunca ao defeito de exigir do Mundo
Que fosse qualquer cousa que não fosse o Mundo.


Alberto Caeiro - Quando está frio

Quanto mais leio Fernando Pessoa e neste caso Alberto Caeiro, mais admiro a sua obra. E ao ler este último sobre a aceitação do que é natural, lembrei-me de que já tinha pensado isso, e de umas palavras sábias que encontrei há dias:

Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente ... e não a gente a ele!
Mario Quintana - A vaca e o hipogrifo

Tília no Jardim da Rainha - Mata do Parque D.Carlos I

Eu aceito as folhas que caem no Outono, o frio do Inverno, as chuvas que causam as cheias, o calor do Verão, as flores da Primavera, porque tudo isso é natural...

Já não consigo entender que se cortem as árvores cujas folhas 'sujam' o nosso pátio, ... porque é o nosso pátio que já não é natural... ( e se as folhas incomodarem, porque não varrê-las?)

É esta mesma atitude que se repete actualmente na nossa relação com os fenómenos naturais e com o meio natural envolvente... o que é natural incomoda-nos e é um alvo a abater!

Mas numa coisa eu não subscrevo o poema acima: Eu queixo-me muito com frio, passo o dia a queixar-me com frio, mas queixo-me porque acho que assim o suporto melhor, ... (lol ) mas aceito-o ;)

1 comentário:

Anónimo disse...

Está mesmo "frio".

Em todo o lado, ele até já se alojou nos sentimentos, no ..., ... e nas carteiras, essas já congelaram. Pior, pior é quando ele se cola nas relações dos humanos/humanos e nas dos humanos/animais/vegetais.

Tanta:
Frieza, tristeza ,
pobreza de espírito.
Ruindade , maldade,
é insanidade.

Mas, há
sempre umas vidas
lindas, queridas
que conseguem lutar
ou pelo menos divulgar,
mesmo que em passos lentos,
pela Alegria, pelo Sol pelo vento,
pelo Mar.
Mesmo estando com frio.
(Mila)