terça-feira, março 20, 2007

...por aí

sentindo a chegada da Primavera Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.


Alberto Caeiro 7-11-1915

3 comentários:

Mila disse...

Há aqui um erro. Talvez fosse verdade no ano de 1915, mas nos dias de hoje,dizer que "A realidade não precisa de mim" é muito complicado.As árvores podem sim, ser menos verdes.

Anónimo disse...

Lindo, mas muito melancólico!
A Primavera é muito mais....

Plum disse...

Momentos de beleza!*