domingo, maio 20, 2007

...mais de Pessoa

Contemplo o que não vejo.
É tarde, é quase escuro.
E quanto em mim desejo
Está parado ante o muro.

Por cima o céu é grande;
Sinto árvores além;
Embora o vento abrande,
Há folhas em vaivém.

Tudo é do outro lado,
No que há e no que penso.
Nem há ramo agitado
Que o céu não seja imenso.

Confunde-se o que existe
Com o que durmo e sou.
Não sinto, não sou triste.
Mas triste é o que estou.

Fernando Pessoa, Contemplo o que não vejo


4 comentários:

Mila disse...

Gosto desta...Pessoa.É o que não é,vê o k não vê...muito enigmático mas não misterioso

Gilberto disse...

Terá acontecido assim para os lados do Egípto: Moisés, por inspiraçao divina libertou o Povo de Deus, escravizado pelo Faraó. Esta passagem da escravatura à liberdade para o povo Hebreu também foi e é Pascoa.

Beijinho

Vladimir disse...

o eterno Pessoa, primeiro estranha-se, depois entranha-se...

Mila disse...

aceita uma prendita que te deixei lá na horta